Arautos do status quo

contato • jul. 13, 2019

Nos últimos dias tive a oportunidade de participar de uma série de eventos focados em inovação, como normalmente acontece em meu cotidiano. Para além das ideias, tecnologias e possibilidades abertas nas discussões, o que mais tem me chamado atenção nestas ocasiões e tantas outras similares é a permanente rigidez de pensamento de alguns “speakers”.

Obviamente há um contrassenso visível entre ser um arauto do novo e ao mesmo tempo ter seu pensamento endurecido e reduzido por crenças, culturas, “generalismos”, superficialidade de ideias (leitura “twitter” e “wikipedia” dos fatos, entre outros mecanismos …) e a necessidade, quase infantil, de fazer valer sua visão específica de mundo.

Em nome da tradição, do corporativismo, dos atuais “skills” e interesses, o fato é que a maioria dos agentes que se colocam no mercado como experts da transformação no fundo não estão preparados para a tarefa à que se propõe.

Em geral, querem propagar mais do mesmo e dentro de seu escopo de atuação e capacitação, em formato ligeiramente atualizado, para que possam manter-se no controle e serem percebidos como relevantes por seus públicos.

Para manter-se em evidência usam argumentos que, para além de serem datados, representam uma inserção de sua própria identidade, em modo de sobrevivência, de forma a tentarem pegar carona em uma onda que não entendem bem o porquê e para que realmente serve, mas acreditam que precisam estar nela e nisto arrebatam alguns incautos consigo.

Para isto usam sempre uma miríade de conceitos, palavras do momento, e lógicas atiradas aos ingênuos da vez, que acabam se deparando com uma impostação do velho, do estabelecido, em sabor “fake” de inovação. 

Este paradoxo me lembra muito um filme brasileiro do final da década de 70 – “Bye Bye Brasil”, de Cacá Diegues . No filme, um teatro mambembe “Caravana Holidei” – sim, escrito jocosamente assim mesmo 😊 – circulava em direção ao norte do país, se apresentando onde sua arte ainda parecia nova e gerava algum interesse e venda de ingressos. Sua proposta de valor e lógica só se sustentavam onde a satiricamente apresentada “espinha de peixe“, a antena que captava a então inovadora televisão, ainda não existia.

Uma espécie de fuga do novo se posicionando como novo. 

“Crazy”, né?

Nada mais “fake” e “non sense” que agentes do “status quo”, em geral armados com falas, “posts” reenviados, conteúdo desprovido de validação e consistência, usando máscaras e roupas camufladas com logotipo inovação, para construir o novo.

Por que podemos afirmar isso?

Entre os critérios basilares para validarmos contextos estão o atingimento de resultados, as evidências, a concretude e a reversibilidade da fala e das ações. Infelizmente a realidade aponta que a maioria destes “speakers” não criam, não estudam, não conhecem, não se apropriam, não desenvolvem, não fazem, apenas falam e copiam, e, quando falam e copiam, o fazem sobre coisas que de fato pouco conhecem ou conhecem superficialmente.


E porque o fazem?

Por que estão em modo de sobrevivência, não se enfrentam o suficiente, não se encaram com a devida atenção no espelho, não se posicionam como aprendizes frente a uma realidade incrível de novas possibilidades, não “matam” conceitos obsoletos existentes em si para dar espaço ao novo instigante.
Não somam o que já são e conhecem, construindo algo maior, apenas replicam sem qualquer propriedade ou aprofundamento sobre os temas.

Não praticam “lifelong learning”.

E com isto seu valor passa a ser cada vez menor, como ocorreu com os ingressos do Teatro Mambembe anteriormente citados. A cada dia a pessoa se vê mais distante do “kernel” e dos acontecimentos. A solução que estes acabam adotando? Ir cada vez mais ao norte… Bye Bye “Speaker”!

É uma espécie de livro já escrito, o final já estabelecido, mas recontado a cada vez com novas “buzzwords”, grandes alaridos, com pompa e circunstâncias mas, sem qualquer conteúdo efetivamente relevante.
Um bom exemplo disto é o uso massivo da expressão “Transformação Digital”, entre outras atualmente praticadas. São usadas para definir algo que, de fato, pode significar tudo ou nada ao mesmo tempo, ou seja, não contemplam lógicas passíveis de verdadeira construção, porque são, como a maioria de seus interlocutores, etéreos e fugazes, sem fundação e sustentação.

Tomam conceitos emprestados, adquiridos em eventos de massa, de empresas que lucram ao estabelecerem contextos e tendências a cada nova atividade, divulgam fotos por aí, praticam culturas enlatadas sem as entender, não dominam a essência, os porquês, de onde provêm, e o que pode ser feito.
Seus exemplos repetitivos e enfadonhos em geral não passam de citar aplicativos de transporte ou de “streams” de vídeo e os ganhos que todos deveriam ter. E ainda se colocam como a ponte entre você e esta super nova realidade.
Se apropriam do que não têm propriedade, do que não conhecem efetivamente, mas, tem um visual legal, usam palavras da moda, tem um “Instagram” “cool” e um “LinkedIn” repleto de artigos que reforçam quem são. Sua visão é sempre externa, adquirida, não construída, mas dita como se sua o fosse.

Convenhamos que nossa gente, nossos jovens, nosso País, nosso desenvolvimento, merecem muito mais. Nesta linha não vamos longe e o novo colonialismo gerado pela inovação pode ser muito mais acachapante que aquele das “commodities” e da venda de riquezas de nosso solo.

O caminho é outro!

Inovação significa modificar antigos costumes, manias, legislações, processos, etc.. É criar caminhos e/ou estratégias diferentes ao que se tem estabelecido. É inventar, gerar o novo, se permitir a estrada não trilhada e, para isto, você precisa se preparar, principalmente em relação a hábitos, vícios, conceitos, possibilidades , cultura, religião, etc…
E para viabilizar isto, “Mindset” dinâmico é mandatório em cada um de nós.
Transformação – dar nova forma a ação – pressupõe em primeiro lugar se colocar disponível para o novo, para as possibilidades que na prática podem significar a derrubada por completo dos conceitos que a pessoa possui ou, uma evolução importante destes.

Sem esta disponibilidade, sem este “Mindset” dinâmico e livre, o que fatalmente teremos é a rigidez e a continuidade como “output” . Ou, na melhor hipótese, uma versão recauchutada de algo já estabelecido.
E nisto, vamos perdendo as ondas e possibilidades.

E neste contexto., se dá espaço para falsos líderes, que se abastecem e praticam redes sociais com arte, usam eventos com públicos cuidadosamente selecionados, em lugares estruturalmente arquitetados e planejados, para gerar de forma “marqueteira” significado e valor para si.

De fato, nestes “speakers”, não há evidência de construção, não geram valor, não há resultado econômico, não há riqueza, não há materialidade do trabalho e nem paz de espírito.

Não há jornada, apenas transação e, com riscos.

A humanidade tem sido profícua em eliminar e/ou relativizar falsos líderes e/ou profetas do acontecido.
E na inovação e tecnologia, hoje mais do que nunca, com novos modelos de negócios, revolução da produtividade, avanços incríveis na saúde e alimentação, entre outras áreas de grande evolução, não vai ser diferente.
Repetidores meméticos de conceitos podem até ter, de forma efêmera, seu lugar ao sol, mas jamais terão lugar à sombra.

Stephen Hawking em seu brilhante “Por sobre o ombro de gigantes”, aborda o fato de que o ser humano constrói em cima daqueles que pagam o preço de cruzar rios e fronteiras ainda não navegadas a partir do profundo conhecimento do já estabelecido. Nada mais efetivo e fático!

A verdadeira liberdade se viabiliza pelo permanente estudo, pela dialética, pela busca incessante de ser e fazer mais amanhã do que hoje, pela abertura constante para possibilidades e para o novo dentro de si mesmo.
E isto tudo exige reversibilidade, isto é, “Se é o que se fala, e se fala o que se é”; “Se pensa o que se diz, e se diz o que se pensa”; “Se age como fala, e pensa como age” e assim por diante.

A pessoa é evidência do que estuda, constrói, desenvolve, pratica e materializa.
Uma espiral centrípeta consistente de desenvolvimento e avanços, com erros, passos para trás, duvidas, incertezas, mas, sempre olhando para frente e dando seu melhor para evoluir.

Dinamicidade de ação, de conceitos, de culturas, etnias, raças, geografias, pluralidade, disponibilidade, colaboração, coordenação, diversidade, entre outros são atributos indispensáveis na nova ordem social e empresarial do nosso presente-futuro.

Não há espaço para concessões aqui por que estas representam já o obsoleto, no máximo espaço para pequenas diplomacias sociais e funcionais.

Aqueles que não lidam com isto como essência, e são apenas fala e repetição, de fato mesmo que de corpo presente, já não fazem mais parte efetiva da realidade que estamos vivendo. Este é o novo envelhecimento, não tem mais a ver com idade, mas, com Mindset rígido. Chamaria estes de “walking deads” e entendo que estão em aumento geométrico em nossa sociedade hoje em dia. Uma grande lástima!

Se permitir o novo e a cada dia evoluir, baseado em uma efetiva preparação e disponibilidade interna é a chave para lidar e vencer neste admirável mundo novo que estamos vivendo.
E esta turma não percebe isto, mas, mais cedo ou mais tarde, a verdade, que adora sempre se esconder, acaba aparecendo e botando luzes sobre os contextos.

Nem todos entenderão e compreenderão esta estrada e muitas vezes ela será difícil , desafiadora mas, com o passar do tempo, os resultados e as evidências aparecem, possibilitando satisfação, felicidade, concretude e sentido na incrível e linda jornada da vida.

Cesar Leite – CEO da GoToBiz e Processor, vice-presidente da Federasul ​

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